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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Mulher que Passa


    Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
    Seu dorso frio é um campo de lírios
    Tem sete cores nos seus cabelos
    Sete esperanças na boca fresca!

    Oh! Como és linda, mulher que passas
    que me sacias e suplicias
    Dentro das noites, dentro dos dias!

    Teus sentimentos são poesia
    Teus sofrimentos, melancolia.
    Teus pêlos leves são relva boa
    Fresca e macia.
    Teus belos braços são cisnes mansos
    Longe das vozes da ventania.

    Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

    Como te adoro, mulher que passas
    Que vens e passas, que me sacias
    Dentro das noites, dentro dos dias!

    Porque me faltas, se te procuro?
    Por que me odeias quando te juro
    Que te perdia se me encontravas
    E me encontrava se te perdias?

    Por que não voltas, mulher que passa?
    Por que não enches a minha vida?
    Por que não voltas, mulher querida
    Sempre perdida, nunca encontrada?
    Por que não voltas à minha vida
    Para o que sofro não ser desgraça?

    Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
    Eu quero-a agora, sem mais demora
    A minha amada mulher que passa!

    No santo nome do teu martírio
    Do teu martírio que nunca cessa
    Meu Deus, eu quero, quero depressa
    A minha amada mulher que passa!

    Que fica e passa, que pacifica
    Que é tanto pura como devassa
    Que bóia leve como a cortiça
    E tem raízes como a fumaça.

    Vinicius de Moraes

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